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25 de junho de 2013

A POESIA DAS COISAS SIMPLES: O ESTILO DE RUBEM BRAGA SOB O OLHAR DO ESCRITOR MOACYR SCLIAR


O capixaba, "poeta da crônica", Rubem Braga enalteceu um estilo literário até então considerado "menor" e ousado por poucos escritores brasileiros. Neste 2013 comemora-se o centenário de nascimento do "velho Braga". Sua Cachoeiro de Itapemirim, tão presente em sua escrita e, outros diversos espaços culturais do Brasil silenciaram para "escutá-lo". Cafés literários, documentários, lançamentos de livros, mostras e exposições foram organizadas para revelar a importância e beleza de sua arte. 

O escritor gaúcho, Moacyr Scliar (1937-2011) antecipou-se ao momento comemorativo  e contemplativo, direcionado ao "velho Braga, quando em 1990 escreveu a crônica, "A poesia das coisas simples", por ocasião do falecimento do ilustre cronista e amigo capixaba, Rubem Braga. Scliar destacou-se na literatura brasileira essencialmente pela redação de textos objetivamente simples, claros e limpos. Autor de mais de setenta livros, em diversos gêneros, Scliar manteve uma espécie de conversa amigável que o aproximava de seus inúmeros leitores. Em sua homenagem a Rubem Braga retrata o "fazendeiro do ar" com a suavidade de quem elege com perfeição cada uma das palavras postas, musicando seus sentimentos, tecendo memórias.

"Todo mundo o conhecia como 'o velho Braga'; e isto, acho, desde que ele era jovem jornalista. E já que ele sempre tinha sido 'o velho Braga', esperava-se de Braga que ele ficasse sempre entre nós, mesmo velho. Mas não. Este nefasto ano de 1990 mostrou-se mais forte do que esta, e outras, ilusões, e levou-nos o homem que transformou a crônica, tradicionalmente vista como um gênero menor, numa categoria literária de importância neste país. Há quem julgue o jornal um veículo inadequado para a literatura; o livro, diz-se, tem permanência (mesmo que esta permanência por vezes só beneficie as traças) ao passo que o jornal é um objeto descartável: nada mais velho que um jornal de ontem, uma coisa que só serve para embrulhar peixe (o que, de novo, só é válido quando a saúde pública e permitia - e quando se podia comprar peixe). Braga, porém, nunca acreditou nessa lógica 'macluhanesca'. Preferiu seguir o caminho de Machado e de Lima Barreto, e transformou o cotidiano em matéria-prima para um trabalho literário de primeira grandeza. Em 'O homem rouco': O jornalista profissional Rubem Braga, filho de Francisco de Carvalho Braga, carteira 10836 série 32, registrado sob o número 785, Livro II, Fls. 193, ergue a fatigada cabeça e inspira com certa força. Neste ar que inspira, entra-lhe pelo peito a vulgar realidade das coisas, e seus olhos já não contemplam sonhos longe, mas apenas um varal com uma camisa e um calção de banho, e, ao fundo, o tanque de lavar roupas de seu estreito quintal, desta casa alugada que ora lhe movem uma ação de despejo'.

Assim era Braga: um homem que tratava as palavras com sensibilidade, com sabedoria e com maestria. Por isso era grande; não porque se desse importância. No Recife, Braga morou algum tempo na famosa pensão de dona Berta, mãe de Noel Nutels, notável sanitarista, já falecido. Um dia apareceu ali um camundongo. Foi uma correria; ao final, Braga liquidou o roedor com um grosso canudo de papelão. Eu sabia que isto ainda serviria para alguma coisa útil, disse, mostrando o conteúdo do canudo: era o seu diploma universitário.

Este homem amável, um pouco retraído, sabia ver poesia nas coisas simples. E a camisa que ficou ondulando ao vento, num varal de quintal, dá agora adeus a um de nossos maiores escritores".

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