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E POR FALAR EM SAUDADE

PERSONAGENS CULT


MAURÍCIO DE OLIVEIRA
O violonista capixaba, MAURÍCIO DE OLIVEIRA (1925–2009) foi o primeiro brasileiro a gravar em disco a obra completa para violão de Heitor Villa-Lobos. Em 1955 participou do V Festival Mundial da Juventude, em Varsóvia, Polônia, tendo sido premiado com a música Canção da Paz. Trabalhou na Rádio Espírito Santo e exerceu a função de professor de violão na Escola de Música do Estado do Espírito Santo. Integrou o lendário Conjunto VagalumeEm diversas ocasiões apresentou-se na noite capixaba e nos anos 60 foi o maestro e arranjador de todas as canções apresentadas nos quatro festivais capixabas de música. Em 2006 recebeu no palco do Teatro Carlos Gomes, o Prêmio Taru, destinado a homenagear personalidades marcantes da cultura do Estado. 
PARA SABER MAIS leia o livro "Maurício de Oliveira: o pescador de sons", de autoria de Marien Calixte (Editora Cidade Alta, 2001) e assista ao documentário "O Pescador de Sons", dirigido por Clóvis Mendes (2007).

 MAURÍCIO DE OLIVEIRA – 70 ANOS
POR ROBERTO PASSOS DO AMARAL PEREIRA
Violão,
instrumento de curvas perfeitas,
silhueta feminina de delicadeza de menina.
Com um abraço seus braços respondem com afagos de acordes e harmonias.
Suas cordas são como os cabelos da mulher amada,
orvalhados pelos dedos da madrugada,
que se transformam em lágrimas perfumadas ritmadas de poesias.
Violão, meu irmão,
companheiro de todas as horas.
Do sol, da lua
solidão, amargura,
serenata, boemia e alegria.
É, meu violão amigo!
Hoje, unidos em um só coração,
vamos homenagear Maurício de Oliveira,
lenda viva capixaba,
nosso violonista,
verdadeiro mar de artista.
Filho de pescador,
professor de várias gerações.
Autor da Canção da Paz.
Homem que faz do violão
seu corpo, alma, paixão e vida.
Precisa dizer mais?



CARMÉLIA MARIA DE SOUZA
A cronista capixaba, CARMÉLIA MARIA DE SOUZA (1936–1974) aflorou no cenário literário local em 1958 e durante dezessete anos trabalhou nos principais jornais da capital. Atuou no Museu de Arte Histórica de Vitória. Ao longo de sua trajetória profissional criou o slogan “Esta ilha é uma delícia” e o utilizou, durante vários anos, como título de sua coluna. Sua obra póstuma, Vento Sul foi publicada em 1976, pela Fundação Cultural do Espírito Santo, com introdução redigida pelo jornalista Amylton de Almeida, que assim a definiu, "Carmélia personificou todo o espírito das gerações dos anos 50 e 60". Segundo Ribeiro, Carmélia “foi a responsável por popularizar a crônica escrita por mulheres capixabas, ao retratar com fidelidade, o espírito de contestação (que seria sua marca) dos anos 60 e da desilusão dos anos 70”. Por meio de suas crônicas era possível vislumbrar o cotidiano vitoriense da época. A escrita carmeliana teve como marca principal a irreverência. Os shows "Carmélia por amor" (1975) e "Carmélia sempre" (1988), idealizados por seus amigos, personificaram sua contribuição para a cultura do Estado. Eleita Patrona da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras, Carmélia teve também seu nome associado a um Centro Cultural.

SAUDOSO SARAU 
POR ROBERTO PASSOS DO AMARAL PEREIRA
De repente
fez-se um conto
um encontro de poetas de todas as idades numa livraria.
Cidade em festa
seleta áurea de magia.
Noite de Brisa
ou seria de vento Sul de uma saudosa amiga?
Foi aí que algo gostoso aconteceu!
Nas asas da fantasia, Carmélia apareceu.
Deixou seu companheiro Dindi
e repousou no meu pensamento.
Chegou na fossa,
mas cheia de prosa
e fez assento no meu coração.
Voltei no tempo adolescente,
na rua do Jornal O Diário.
Olhar de soslaio,
admirado diante daquela alma de artista
que descobriu as delícias dessa ilha.
Confesso que senti faíscas de alegria.
Nem sabia que o melhor da noite não havia começado.
Foi quando então olhei pro lado.
e fiquei verdadeiramente emocionado.
Por sorte, ela estava ali
não somente de braços dados com Marly
mas, no deboche, no forte pessimismo,
no lirismo, no romantismo, nos temas,
nas rimas de todos os nossos poemas.
Pra variar, Carmélia saiu de mansinho.
Porém, deixou um recado:
próximo sarau tem que ser no Britz Bar,
pois está com saudade do filé de lá.



AMYLTON DE ALMEIDA
O ativista cultural, AMYLTON DIAS DE ALMEIDA (1946–1995) atuou como jornalista, escritor, dramaturgo, documentarista e crítico de cinema. No decorrer das décadas de 1960, 1970 e 1980 participou do cenário artístico-cultural capixaba tendo integrado, por dois mandatos, o Conselho Estadual de Cultura do Espírito Santo. "A.A.", como costumava assinar seus textos destacou-se pela excelência crítica cinematográfica, publicada durante vinte e três anos no Caderno Dois, do Jornal A Gazeta. Revelou-se um intelectual combativo, engajando-se em diversas causas. Dono de um estilo personalíssimo, irônico e mordaz, Amylton de Almeida estruturou um acervo audiovisual que revela diversas peculiaridades sobre o Estado. Libertário, independente, criativo, ousado e irreverente, Almeida revelou talentos na literatura, na música e na produção audiovisual capixaba. Recebeu premiações em nível nacional e deixou inacabado seu projeto maior: o primeiro longa-metragem do Espírito Santo, O amor está no ar. 
PARA SABER MAIS assista ao documentário Lugar de toda pobreza, dirigido por Amylton de Almeida. Leia a revista Caderno D, publicação bimestral de iniciativa da Secretaria Estadual de Cultura (SECULT), em parceria com a Imprensa Oficial do Espírito Santo. publicação traz como matéria o legado de Amylton de Almeida.

AMYLTON DE ALMEIDA
POR ROBERTO PASSOS DO AMARAL PEREIRA
Autoditada
intelectual
jornalista
escritor
dramaturgo
crítico de cinema.
Homem-menino
sensível
mordaz
ferino.
Com sua ausência
meu coração é lugar de toda pobreza.
Falta seu mar de inteligência em nossa ilha.
A.A., minha saudade está no ar!



HOMERO MASSENA
O artista mineiro, radicado no Espírito Santo, HOMERO GABIROBETZ MASSENA (1885-1974) descobriu sua vocação artística ainda jovem. Frequentou cursos de pintura, urbanismo e decoração na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e de Minhas Gerais. Massena, que tinha a natureza como sua principal fonte de inspiração fundou, em 1951, a Escola de Belas Artes do Espírito Santo (atual Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo. No período de 1906 a 1909 e no ano de 1930 teve algumas de suas obras expostas na Galeria Rembrandt, em Paris. Dentre suas obras, expostas na cidade de Vitória, destacam-se a tela Solidão, parte do acervo do Palácio Anchieta e a pintura do teto do Teatro Carlos Gomes. Sua técnica impressionista, caracterizada por pinceladas soltas, largas e precisas apresentam um resultado envolvente que coloca o espectador em comunhão com a natureza capixaba. Com o título de Cidadão Espírito-Santense, Massena representou a nossa terra, possibilitando a quem contempla sua obra a rara sensação de saber exatamente onde está.
PARA SABER MAIS visite o Museu Homero Massena, espaço onde o artista viveu durante vinte e três anos e que apresenta a história da colonização do município de Vila Velha, além de um acervo que inclui objetos, fotos, escritos e obras do pintor. Visite a Galeria Homero Massena, fundada em 1977 com a finalidade de abrigar exposições de artes visuais de artistas nacionalmente reconhecidos e de iniciantes na carreira artística.

HOMERO MASSENA
POR ROBERTO PASSOS DO AMARAL PEREIRA
Mineiro de Barbacena.
Formado em odontologia.
Foi relojoeiro
afinador de piano
jornalista
político (prefeito).
No desenho e pinceladas
descobriu sua vocação: a pintura.
Artista impressionista
fundou a Escola de Belas Artes do Estado.
Retratou com naturalidade nossa terra, gente e costumes.
Apaixonou-se por D. Edy.
Morou na Prainha, em Vila Velha.
Capixaba se eternizou.



RUBEM BRAGA
O escritor RUBEM BRAGA (1913-1990) assinalou na literatura brasileira o fato de ter sido o único autor de primeira linha a se tornar célebre exclusivamente através da crônica. De temperamento introspectivo, Braga adotou como marca registrada a crônica poética, na qual aliava um estilo próprio a um intenso lirismo, provocado pelos acontecimentos cotidianos, pela natureza e pelos estados de alma que observava nas pessoas. Tendo sido um dos primeiros cronistas a receber influência modernista, Rubem Braga soube aliar as descobertas vocabulares e sintáticas do movimento a uma escrita calcada nos melhores valores da tradição, sem com isso retroceder à gramática portuguesa do princípio do século. "Num momento de perda tanto das idealizações religiosas quanto tecnológicas, pode-se dizer que é justamente esse desencantamento do mundo uma das principais características do autor, que fundamentou sua prosa numa poética capaz de transfigurar o menor dos acontecimentos em uma experiência das mais significativas". Rubem Braga iniciou-se no jornalismo, aos 15 anos, no Correio do Sul, em sua cidade natal, Cachoeiro de Itapemirim. Publicou seu primeiro livro de crônicas, O Conde e o Passarinho, no ano de 1936. Durante a Segunda Guerra Mundial atuou como correspondente junto à Força Expedicionária Brasileira e, na década de 1970 fundou a Editora Sabiá, em parceria com Fernando Sabino e Otto Lara Resende. Nos anos 1980 tornou-se colaborador no Caderno Cultural Folhetim, do Jornal Folha de São Paulo
PARA SABER MAIS realize uma visita histórico-cultural e atemporal à Casa de Cultura Rubem Braga em www.overmundo.com.br/guia/casa-dos-bragaLeia a biografia do cronista, escrita pelo jornalista e professor de literatura cachoeirense, Marco Antônio de Carvalho, Rubem Braga: um cigano fazendeiro (Editora Globo, 2007). "O livro percorre todo o século XX, desde a vinda da família Braga de Portugal até os anos 1990, acompanhando a história conturbada do século e as peripécias do jornalista, cronista e escritor, da pequena Cachoeiro do Itapemirim para o mundo". Leia o livro Na Cobertura de Rubem Braga, do jornalista e escritor José Castello, que descreve em forma de verbetes, a múltipla personalidade do cronista. "Castello faz o retrato em corpo inteiro do homem Rubem Braga, não só com a ajuda de depoimentos daqueles que conviveram com o imenso ser humano que foi Braga, mas também através da acurada releitura de toda a obra do cronista". Desde o ano de 2006, a reverenciada "capital secreta do mundo", Cachoeiro de Itapemirim, cidade natal do cronista, realiza exposições literárias, com edições bienaisEm 30 de junho de 2010 foi inaugurado, no Rio de Janeiro, o Complexo Rubem Braga, que consiste na saída da Estação de Metrô General Osório. 

RUBEM BRAGA
POR ROBERTO PASSOS DO AMARAL PEREIRA
Ai de ti, Cachoeiro de Itapemirim
que não esquece seu filho ilustre!
Homem introspectivo
coração menino
que gostava de solidão.
Foi jornalista
repórter
editor
diplomata
e correspondente de guerra.
Não desejou ser Conde,
mas passarinho das letras
a cantar e voar na imaginação.
Escreveu crônicas com linguagem coloquial,
prosa poética de um lirismo sem igual.
Gênio num gênero para uns considerado menor.
Para a Academia não foi imortal,
mas foi o maior,
o Sabiá da Crônica.

O CONDE E O PASSARINHO
POR VINÍCIUS DE MORAES
Rubem Braga é, sabidamente, um conhecedor de passarinhos. Suas crônicas alegram-se e se entristecem com frequência de nomes de pássaros nacionais que eu só conheço de ouvir dizer - o que me dá um certo complexo de inferioridade. Já andei, certa vez, planejando estudar ornitologia por causa disto, e lembro-me de que na viagem que fiz com ele a sua Cachoeiro de Itapemirim, quando da homenagem que lhe prestou a cidade, foi com um sentimento de gula que recebi o maravilhoso disco de pios artificiais de passarinhos, feito pela família Coelho, que disso criou uma pequena indústria local. Tais projetos nunca foram adiante, como vários outros, entre os quais um de estudar carpintaria: e este, inclusive, concertado com o próprio Rubem - e que resultou em arrancarmos, ato contínuo, a porta da garagem da minha antiga casa, sairmos meio hora depois para matar o calor com uma cerveja gelada, e nunca mais voltarmos à dita porta, que se quebrou jazente por dias a fio, vítima de nossa impostura. O Braga conhece bem sua passarada, isso ninguém lhe tira. O que não impede, porém, que tenha dado um "baixo" ornitológico que merece registro, segundo me conta minha irmã Lygia, testemunha ocular do mesmo. Pois o que se deduz da história é que o Braga pode conhecer muito bem tico-tico, curió, sanhaço, cardeal, tié-sangue, sabiá, gaturamo, cambaxirra e até mesmo vira-bosta - mas, em matéria de canário trata-se de um otário completo e acabado. Dito o que, passemos à narrativa. Parece que o Braga vinha um dia assim muito bem pela Cinelândia quando topou com um vendedor de passarinhos oferecendo a preço de ocasião um sadal de canários dentro de uma gaiola cuja bossinha era ser dividida por uma separação levadiça entre dois compartimentos, um para o macho, outro para a fêmea. A gracinha era abrir a portinhola do macho, deixá-lo fugir e depois vê-lo voltar docemente, no pio da fêmea. O Braguinha, que além de gostar de pássaros não é tolo (imagina para quanta mulherzinha ele não ia poder fazer aquele truque!) assistiu com o maior interesse a mais essa demonstração de que, como diz o samba, o homem sem mulher não vale nada, entregou o dinheiro, meteu a gaiola debaixo do braço e tocou-se para o Leblon, sequioso de mostrar seu novo brinco ao aborígene. E deu-lhe a sorte de encontrar minha irmã Lygia, que além de ser uma esplêndida assistência para demonstrações desse teor, é pessoa mais de se apiedar que se caçoar da desdita alheia. O Braga colocou a gaiola em posição, abriu a porta e lá se foi o canarinho pelo azul afora, em lindas evoluções. A fêmea, como previsto, abriu o bico, e o canário, ao ouvi-la, fez direitinho como mandava o figurino: voltou e posou junto à porta aberta. Mas o divórcio entrou? Nem o canário. O bichinho ficou prudentemente à porta, mas entrar dentro mesmo da gaiola que é bom... ahn-ahn. O Braga animou a ave canora com milhões de piu-pius, fez-lhe mentalmente enérgicas perorações contra a sua calhordice - tudo isso, conta minha irmã Lygia, com olhos onde se começava a notar uma certa apreensão. O canário, nada. Quem sabe, ponderou minha irmã, um elemento verde qualquer colocado junto à porta, uma folha de alface, por exemplo, não animaria o bichinho? Foi trazida a folha de alface e colocada junto à porta. Durante essa operação, o canário levantou voo, e a canarinha, aproveitando-se da ocupação dos dois, fez força com o biquinho e acabou por erguer a portinhola da separação; dali para o Jardim Botânico, não teve nem graça. Diz minha irmã que o Braga ficou triste, triste. E como a esperança é a última que morre, antes de ir embora ainda ajeitou a gaiolinha para uma espera: quem sabe os pilantras não voltariam à noite... Canário, hein Braguinha?...



NARA LEÃO
A artista NARA LOFEGO LEÃO (1942-1989) iniciou seus estudos musicais, com aulas de violão, aos 14 anos de idade. Um ano depois, residindo no Rio de Janeiro, já estava inserida nas famosas reuniões do grupo de jovens músicos que participariam da criação da Bossa Nova. No ano de 1959, então com 17 anos, estreou como cantora no show Segundo Comando da Operação Bossa Nova, apresentando as canções Se é tarde me perdoa e Fim de noite. A partir desse momento, Nara participa de diversos shows ao redor do país. Sua estréia profissional, no entanto, se deu no ano de 1963, no espetáculo Pobre Menina Rica, na cidade do Rio de Janeiro, em parceria com Carlos Lyra e Vinícius de Moraes. A partir de 1964, Nara rompe com o rótulo de "cantora de bossa nova", inaugurando um repertório que promovia o encontro das canções de Carlos Lyra, Vinícius de Moraes e Baden Powell, com os sambas de Cartola, Zé Ketti e Nelson Cavaquinho. No Festival de Música Popular da Rede Record, em 1966, Nara defende duas músicas e torna-se vencedora, ao lado de Chico Buarque, com a canção A Banda. Em 1975 ganha o prêmio de Melhor Cantora do Ano da Associação dos Críticos de Arte de São Paulo. Em 1984 grava um novo disco que marca sua volta ao repertório da Bossa Nova. Entre seu primeiro LP, lançado no ano de 1964, e o último de 1989, Nara lançou 23 álbuns e vários singles, coletâneas e participações. De acordo com o cantor e compositor, Caetano Veloso "é natural que quase todos pensem em Nara como a musa da bossa nova e a pioneira da música participante: ela foi principalmente isso. Mas quero falar da Nara tropicalista, retratada por sua personalidade determinada, seu desassombro em perguntar pela verdade crua das coisas, sua pesquisa permanente sobre a liberdade. Tudo o que há de corajoso, livre e luminoso no tropicalismo é como o espírito de Nara Leão". Caetano assegura que "Nara não era tímida. Com sua voz trêmula e pura, com seu violão aplicado, ela foi uma grande artista, uma grande investida brasileira na modernidade. De inteligência franca, Nara era uma praia ao sol; livre". Em comemoração aos 70 anos de vida da artista, que faria no dia 19 de janeiro de 2012, foi recentemente lançado o site http://www.naraleao.com.br, objetivando "compartilhar sua obra para que todos possam se deliciar, ouvir e pesquisar à vontade. É importante que as pessoas voltem a escutá-la para entender a trajetória toda. Que ela é muito mais que a 'musa da bossa nova' ou a intérprete de 'A banda'", afirma Isabel Diegues, idealizadora do projeto e filha mais velha de Nara Leão.

NARA LEÃO
POR ROBERTO PASSOS DO AMARAL PEREIRA
Mulher de opinião
politizada
de estrutura pequena
e voz curta.
Com um banquinho
e um violão
era poema
de pura emoção.
A sala de seu apartamento
foi berço de um movimento:
a bossa nova ganhou sua musa,
que abraçou outros ritmos,
lançou compositores "de samba de morro"
e flertou com o tropicalismo.
Nara, hoje meu coração sem sorriso, pede passagem.
Sou só saudade.



VIRGÍNIA TAMANINI
Escritora, poetisa e roteirista, ocupante da Academia Espírito Santense de Letras, a capixaba VIRGÍNIA GASPARINI TAMANINI (1897-1990) nasceu na fazenda Boa Vista, no Vale do Canaã, município de Santa Teresa. Filha de imigrantes italianos aprendeu as primeiras letras com professores particulares. Autodidata, logo compreendeu que para instruir-se necessitava dedicar todos os momentos de lazer ao estudo e à leitura. Sua inclinação para as letras iniciou quando, ainda muito jovem, usando o pseudônimo Walkíria escreveu o romance folhetim, Amor sem mácula. No livro Karina, escreveu sobre a vinda dos imigrantes italianos para o Brasil. Em 1980 essa obra foi lançada na Itália pelo Museu Uni e Costumi Della Gente Trentina. Tamanini participou na organização da Primeira Quinzena de Arte Capixaba de 1947. 

VIRGÍNIA TAMANINI
POR ROBERTO PASSOS DO AMARAL PEREIRA
Filha de imigrantes italianos,
natural do Vale do Canaã, Santa Teresa.
Menina, se encantou com a escrita.
Autodidata, adaptou, encenou e dirigiu peças de teatro.
Escritora, poetisa, jamais esquecida pelo romance "Karina".



LUIZ GUILHERME SANTOS NEVES
O escritor, folclorista capixaba e catedrático de língua e literatura portuguesa, LUIZ GUILHERME SANTOS NEVES (1906-1989), lecionou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)Membro do Instituto Geográfico do Espírito Santo e da Associação Espírito-Santense de Folclore foi diretor da Revista Folclore, que fundou em julho de 1948 e da publicação Cadernos de Etnografia e Folclore. Correspondente de várias instituições culturais do país e do exterior fez do Espírito Santo um dos estados que melhor contribuiu para a grandeza dos estudos folclóricos no Brasil. Impulsionado pela curiosidade, Guilherme Santos Neves observava e registrava os fatos folclóricos in loco. Considerado unanimamente o maior folclorista do Estado foi agraciado com as Medalhas Silvio Romero (pela Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro), Vital Brasil (pelo Governo do Estado de São Paulo) e Nina Rodrigues (pela Sociedade Paulista de História da Medicina). Por meio de um projeto cultural lançado pela Universidade Federal do Espírito Santo e financiado pela Petrobrás publicou-se em 2008 a Coletânea de estudos e registros do folclore capixaba: 1944-1982. A obra, que consiste em dois volumes, com um total de 1.167 páginas, reúne 251 ensaios e artigos de Guilherme Santos Neves, abrangendo as mais diversas manifestações populares por ele localizadas e estudadas no Espírito Santo. A coletânea, que inclui ilustrações, fotografias, arquivos diversos, além de cerca de 40 significativas partituras musicais pode ser conferida no link http://www.estacaocapixaba.com.br/especiais/coletanea-de-estudos-e-registros-do-folclore-capixaba-1944-1982/

LUIZ GUILHERME SANTOS NEVES
POR ROBERTO PASSOS DO AMARAL PEREIRA
Do berço de suas cantigas de infância,
abraçou o folclore.
Fundou revista
estudou
fotografou
registrou
e documentou manifestações populares.
Homem forte,
determinado.
O povo foi seu sujeito e objeto de vida.
Um orgulho capixaba. 



HERMÓGENES LIMA FONSECA
Nascido no sertão da Vila de Itaúnas, o folclorista, historiador e escritor HERMÓGENES LIMA FONSECA (1916-1996) deixou um importante legado cultural sobre o Espírito Santo. Ainda jovem, mudou-se para Vitória tornando-se frequentador permanente e morador dos morros da capital. Organizou os primeiros blocos carnavalescos que deram origem às escolas de samba capixabas, lutando pela valorização da cultura popular e sua afirmação frente a uma enorme rejeição social. Hermógenes Lima Fonseca foi o mais representativo intérprete dos anseios e sentimentos do povo, principalmente dos participantes dos folguedos, característicos das etnias mais representativas que formam o mosaico da civilização espírito-santense. Grande parte de sua obra literária esteve voltada para a cultura popular, nos "causos" contados pelo povo. Conhecido por seus estudos sobre danças locais e folguedos populares, Lima Fonseca deixou registrado em livros, algumas dessas histórias. Presidente da Comissão Espírito-Santense de Folclore, membro da Academia Espírito Santense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, Hermógenes Lima Fonseca é autor de inúmeras obras sobre o floclore capixaba como, Tradições populares do Espírito Santo, (1991); A Vila de Itaúnas, (1980) e Curubitos, (1992). O "Conde de Angelim", como era carinhosamente chamado, manteve-se durante muitos anos na trincheira das lutas pelas liberdades democráticas. Militante, teve grande participação na vida política do Estado. 
PARA SABER MAIS visite a Casa do Folclore Hermógenes Lima Fonseca, localizada à Rua Professor Arnoud Cabral, 67, Nazaré, em Vitória.

 HERMÓGENES LIMA FONSECA
POR ROBERTO PASSOS DO AMARAL PEREIRA
De Itaúnas para os morros de Vitória
assim iniciou sua história.
Organizou os primeiros blocos carnavalescos
que deram origem às Escolas de Samba.
Escritor, jornalista, político, historiador, folclorista.
Lutou pela valorização da cultura popular.
Intérprete dos anseios e sentimentos do povo
hoje tem seu lugar
na memória do povo capixaba.



JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA
O cronista e romancista capixaba, JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA (1934-1986) teve parte de sua educação fundamentada nos livros que atentamente acessava na Biblioteca Pública Estadual. Iniciou sua carreira em jornais da capital capixaba. Ainda jovem, mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro onde atuou como repórter da Revista Manchete. Ganhou destaque nacional quando se tornou cronista do Jornal do Brasil, onde escreveu por mais de duas décadas. No campo literário, Oliveira lpublicou diversas obras, desde crônicas reunidas até romances. Destacam-se O pavão desiludido, Terror e êxtase (adaptado para o cinema sob a direção de Antônio Calmon), Um novo animal na floresta e Domingo 22. Diário de patetocracia (Graphia, 1995) tornou-se sua obra póstuma. Em crônica bem humorada autodefiniu-se como "cristão, católico apostólico romano, pagão, filho de Iemanjá, o mais ecumênico dos ateus, brasileiro por fatalidade, temperamento e vocação, "apenas dois dedos maior que Napoleão Bonaparte, com o coração de Gaugin, o fugitivo, o liberado, o inocente, o doido". Boêmio convicto, eloquente e dono de uma percepção fora de comum, Oliveira frequentou os bares e restaurantes em que a inteligência carioca se encontrava. Durante quase trinta anos observou nesses locais as mudanças pelas quais o Brasil passava. Foi no ambiente dos bares que encontrou a inspiração que o transformou num dos cronistas mais lidos do país. Foi defensor do livro pensamento, sem temer polêmicas nem o revanchismo dos poderosos de qualquer facção. Trouxe para o gênero certa mistura de lirismo e sarcasmo, com um estilo de máxima agilidade, que colocou a serviço de uma sensibilidade especial para o ridículo e o patético do homem do nosso tempo. Com 50 anos de idade retornou à Vitória para conduzir o Projeto Escritor Residente na Universidade Federal do Espírito Santo. O jornalista Jason Tércio, especialista na vida e obra de Carlinhos Oliveira publicou o livro biográfico Órfão da tempestade. Em seqüência lançou Crônicas de Memórias: as confissões de José Carlos de Oliveira e Diário Selvagem, um surpreendente depoimento pessoal, no qual Oliveira explora toda a sua inquietude. Conheça alguns textos do cronista em www.releituras.com/jcoliveira_menu.asp

 JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA
POR ROBERTO PASSOS DO AMARAL PEREIRA
Boêmio
espirituoso
polêmico.
"Brasileiro por fatalidade, temperamento e vocação", como se definia.
Fez da varanda do bar Antônio's seu escritório-redação.
Voz do pensamento livre de sua geração.
Jornalista, ficcionista, contista.
No Jornal do Brasil,
com textos sensíveis, perspicazes e brilhantes
fez fama.
Tornou-se o maior cronista.



NICE
A artista plástica capixaba NICE NASCIMENTO AVANZA (1938-1999) tornou-se reconhecida internacionalmente por sua arte primitivista e pela temática relacionada ao cacau marcadamente presente em sua obra. Nice iniciou sua trajetória profissional no final da década de 1960, por incentivo de amigos, que observaram a qualidade de seus desenhos feitos sobre papéis de embrulho da lanchonete onde então trabalhava. Realizou sua primeira exposição individual em 1969, no Museu de Arte Moderna do Espírito Santo (atual MAES). Em 1970 expôs na Galeria das Lojas Ludan, em Vitória e realizou sua primeira mostra individual no exterior, na Bristal University, Fall River. De natureza autodidata, os trabalhos realizados por Nice não se preocupavam com o discurso erudito. Festeira, a pintora buscava captar elementos do seu entorno e os convertia em temática plástica. Em 1981 realizou uma exposição individual na Galeria Levino Fanzeres, em Vitória e na Comissão Executiva do Plano da Lavoura do Cacau (CEPLAC), em Brasília. Essa última exposição completava sua quadragésima primeira participação em certames artísticos em todo Brasil e no exterior. Entre os principais prêmios recebidos pela artista destacam-se o de Melhor Trabalho e Menção Honrosa na X FEARTE, o Prêmio Aquisição da Câmara Municipal de Vitória e o Prêmio Paleta Internacional no Salão Portinari do NACNE. Sua obra reflete o movimento da contracultura de sua época. Cenas religiosas, do dia-a-dia no campo e dos animais povoam o universo artístico de seus trabalhos. Figuras do catolicismo são retratadas e em alguns de seus trabalhos surgem acrescidas de elementos que não correspondem às representações tradicionais. A pintora de arte naif, conhecida como "a pintora do cacau", cujo conjunto da obra sobre essa temática passou a ser chamado de "frutos de ouro", teve alguns de seus trabalhos expostos em uma mostra retrospectiva, na década de 1990, no Museu de Arte do Espírito Santo. Atualmente dois de seus quadros compõem a mostra permanente, O Diverso no Acervo, no MAES.

NICE
POR ROBERTO PASSOS DO AMARAL PEREIRA
Morou no bairro Caratoíra.
De família humilde
sonhou em ser cantora de rádio.
Desenhou em embrulhos de papéis
de padaria.
Autodidata, tornou-se pintora, artista primitivista.
Como tema, abraçou a religiosidade-espiritualidade e o cacau.
Mulher de extrema sensibilidade
e olhar de poesia.



DIONÍSIO DEL SANTO
O artista plástico capixaba, DIONÍSIO DEL SANTO (1925-1999) é considerado um dos grandes nomes da serigrafia brasileira. Pintor, desenhista e gravador autodidata, Del Santo sempre esteve sintonizado com os princípios do movimento neoconcreto e com a geometria abstrata. Realizou seus primeiros desenhos no começo da década de 1940. Transferiu-se para a cidade do Rio de Janeiro em 1946 onde iniciou seus trabalhos com pintura. Em 1952 passou a trabalhar com xilogravura e serigrafia, revelando expressiva produção artística com o uso dessas técnicas. Entre 1964 e 1966 produziu trabalhos à guache, por meio de xilogravuras figurativas que remetiam a sua origem rural. São dessa fase as telas pinceladas em vermelho, branco e preto, ou apenas em branco, nas quais constrói o espaço pictórico com poucas linhas. Realizou sua primeira exposição individual, no Rio de Janeiro, em 1965, na Galeria Relevo. Desde a metade da década de 1960 dedicou-se à arte abstrata, realizando principalmente obras com o uso da serigrafia. A partir dos trabalhos que desenvolveu sob a influência dessa técnica pode-se afirmar que as serigrafias deslocam-se de sua posição de mera produção industrial para o lugar de uma sofisticada gravura de conteúdo artístico. Recebeu o Prêmio Aquisição na Nona Bienal Internacional de São Paulo. Destacou-se em sua produção pictórica a série Cordéis, na qual se nota a influência da arte cinética quando passa a inserir cordas na superfície de suas composições. Em 1975 recebeu o Prêmio de Melhor Exposição de Gravura do Ano, da Associação Paulista dos Críticos de Arte. Realizou mostras retrospectivas no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e no Museu de Arte do Espírito Santo (MAES). Em 1978 foi vencedor do Prêmio IBEU de Artes Plásticas, no Rio de Janeiro. Del Santo doou grande parte de suas obras para o  Museu de Arte do Espírito Santo (MAES), que leva o seu nome. Dono de um temperamento extremamente fechado e tímido, Del Santo dedicou-se a pesquisas no campo da forma e da cor. "Meu amor à linha, a qual se transforma em uma constante em minha arte tem sua origem no desenho arquitetônico e no desenho gráfico". 
PARA SABER MAIS leia o Catálogo Dionísio Del Santo, produzido pela Secretaria Estadual de Cultura. A publicação conta com 120 páginas que apresentam a relação de todas as obras e poemas do artista, assinalando sua trajetória criativa com textos da artista plástica, Almerinda Lopes e narrativas de época escritas pelo crítico de arte, Mário Pedrosa.

DIONÍSIO DEL SANTO
POR ROBERTO PASSOS DO AMARAL PEREIRA
Homem tímido, calado
encontrou nas artes plásticas
a forma de expressão.
Pintor e gravador autodidata,
desenhista, aclamado serígrafo,
que com garra e emoção,
abraçou o movimento neoconcreto
e a geografia abstrata.
Dedicou-se à pesquisa da forma e cor.
Hoje em homenagem ao legado artístico-cultural desse anjo da criação,
o Museu de Arte do Espírito Santo
recebe seu nome.



SÉRGIO SAMPAIO
O cantor e compositor capixaba, SÉRGIO SAMPAIO (1947-1994) cresceu em meio musical povoado de partituras e instrumentos devido a atuação do pai como regente diletante de várias bandas de música no município de Cachoeiro de Itapemirim. Apesar de ter tido um pai maestro, Sampaio não se interessou por uma educação musical formal, iniciando-se no violão com dois primos seresteiros que lhe ensinaram os primeiros acordes. Aos 16 anos presenciou o pai componto "Cala a boca, Zebedeu", música que viria a gravar anos depois. Adolescente, trabalhou na tamancaria do pai, tornando-se um aficiconado pela programação do rádio, tendo em Orlando Silva, Nelson Gonçalves e Sílvio Caldas seus primeiros ídolos, assim como os locutores, Luiz Jatobá e Saint-Clair Lopes, cujo estilo esforçava-se em assimilar imitações caseiras, o que acabou lhe valendo, em 1964, a aprovação em um teste para locutor da ZYL-9 Rádio Cachoeiro. Dois anos mais tarde transferiu-se para o Rio de Janeiro, empregando-se como locutor na Rádio Relógio, depois na Rádio Rio de Janeiro e, posteriormente, em várias outras emissoras. Em fevereiro de 1970 demite-se da Rádio Continental para dedicar-se integralmente à música. Candidata-se no Festival Fluminense da Canção, etapa do III Festival Internacional da Canção, ficando entre os vinte finalistas com a música "Hei, você". Nesse mesmo ano conheceu Raul Seixas, então produtor musical da Gravadora CBS (atual Sony Music) e foi oficialmente apresentado ao rock e ao pop. Com Raul dá início à produção de um projeto de ópera-rock. Começa a gravar em 1972, ano em que sua canção "Eu quero é botar meu bloco na rua" participa do IV Festival Internacional da Canção e torna-se sucesso no carnaval de 1973, fato que lhe rendeu o Troféu Imprensa como revelação daquele ano. A carreira só experimenta um recomeço quando residindo na Bahia, no início da década de 1990, tem velhos sucessos novamente lançados por Elba Ramalho e pelo Grupo Roupa Nova. Em 1994 acerta com a gravadora Baratos Afins o lançamento de um disco com músicas inéditas, mas por consequência da vida desregrada, falece de pancreatite antes de concretizar o projeto. Em entrevista concedida ao cantor Zeca Baleiro assim se definiu, "era cultuado, mas não me enturmava. Nunca fui pessoa de grandes grupos, de grandes rodas, nunca estive dentro, sempre estava perto". Em 2009 foi lançada pela Editora Língua Geral uma biografia sobre Sampaio escrita pelo poeta e professor da PUC-Rio, Paulo Henriques Britto. Com o título "Eu quero é borar meu bloco na rua", o livro fez parte da coleção "Lingua Cantada", do Núcleo de Estudos Musicais do CESAP da Universidade Cândido Mendes. O crítico de música Rodrigo Moreira assinalou que, "Sérgio Sampaio foi daqueles artistas não reconhecidos, ou melhor, não adequadamente avaliados de seu tempo. Em plena ditadura Médici, estourou nacionalmente com 'Eu quero é botar meu bloco na rua', histórica marcha-rancho, um dos mais eloquentes protestos da MPB contra a ditadura. Ainda jovem e imaturo, com todas as atenções voltadas para si, respondeu com 'Odete', 'Viajei de trem' e 'Meu pobre blues', demonstrando sua categoria e versatilidade como compositor, mas parecia estigmatizado por aquela música tão marcante. Com 'Velho bandido' e o LP 'Tem que acontecer' ganhou aplauso de crítica sem,no entanto,alcançar uma repercursão popular mais significativa. Incompatibilizado com a indústria musical de meados dos anos 1970  em diante, resolveu trilhar um solitário caminho à margem do mercado, gravando apenas mais um LP, o independente 'Sinceramente', de 1982, e fazendo shows em teatros underground e bares. Arrolado entre os 'malditos' da MPB setentista - Jards Macalé, Luiz Melodia, Jorge Mautner, entre outros - rotulado de 'compositor de uma música só', Sérgio Sampaio tinha muito mais a oferecer. Permaneceu um artista puro, que, mesmo longe dos holofotes da mídia fez do ato de compor e cantar sua própria razão de ser. Deixou um balaio precioso de músicas inéditas - um tesouro a ser descoberto por intérpretes dos mais variados gêneros". Em um de seus últimos trabalhos, "Cruel", produzido por Zeca Baleiro é possível perceber, segundo matéria publicada no Jornal do Brasil que, em Sampaio "[...] o que permaneceu foi a poesia contundente, inquieta e confessional: 'eu vejo mofo verde no meu fraque/e as moscas mortas no conhaque/que herdei dos ancestrais/e as hordas de demônios quando eu durmo/infestando o horror noturno/dos meus sonhos infernais', versos de 'Roda morta', que denunciam suas leituras de Rimbaud, Baudelaire e Augusto dos Anjos. A maioria das canções é de boa qualidade e aponta para um artista que atingiu a maturidade artística tardiamente". 
PARA SABER MAIS leia a biografia Eu quero é botar meu bloco na rua, de Rodrigo Moreira e assita à videografia, Cachoeiro em três tons.

SÉRGIO SAMPAIO
POR ROBERTO PASSOS DO AMARAL PEREIRA
Foi radialista e locutor
Abraçou a música
Compositor de vários estilos
Artista pouco reconhecido
Boêmio
Rotulado de maldito pela crítica
Autor da marcha-rancho
Eu quero é botar meu bloco na rua,
eloquente protesto contra a ditadura.



AUGUSTO RUSCHI
AUGUSTO RUSCHI (1915-1986) alcançou notoriedade na comunidade científica pelo legado advindo do profundo conhecimento que desenvolveu sobre os beija-flores, área em que se tornou a maior autoridade mundial.  Na infância Ruschi já manifestava um forte interesse pela natureza. Realizou sua primeira exploração aos seis anos, quando passou um dia inteiro na área que rodeava sua casa, admirando a flora e a fauna local. Embrenhava-se nas matas para buscar o conhecimento que desejava e detinha-se em brincadeiras com insetos. Aos doze anos passava semanas seguidas na floresta, se alimentando de frutas silvestres, suprimentos em conserva e de pequenas caças, coletando e descrevendo animais e vegetais. Sua primeira paixão foram as orquídeas. Explorou mais de mil quilômetros quadrados de mata descrevendo, catalogando e classificando milhares de espécies. Com apenas quinze anos publicou seu primeiro trabalho científico, um relato sobre a descoberta de dois novos gêneros acerca de dezenove novas espécies de orquídeas, escrito em latim e com uma metodologia inovadora que causou a admiração dos técnicos do Museu Nacional. Aos dezessete anos passou a trabalhar regularmente para o Museu como coletor de espécimens, frequentando também seminários e palestras no Rio de Janeiro. Aos dezenove anos voltou-se para os beija-flores quando descobriu que algumas espécies eram responsáveis pela polinização de orquídeas, numa época em que essas aves eram pouco conhecidas pela ciência, tornando-se um dos pioneiros na matéria e ganhando reconhecimento mundial. Em 1937 passou a residir na cidade do Rio de Janeiro e foi professor da Universidade Federal do Brasil (atual UFRJ). Por considerar que o trabalho de campo realizado nas matas virgens do Espírito Santo era mais relevante para a ciência do que a atividade desenvolvida nos laboratórios, optou por retornar a sua terra natal. Ruschi fundou duas instituições científicas, a Estação de Biologia Marinha Ruschi e o Museu de Biologia Professor Mello Leitão, assim como a Fundação Brasileira de Conservação da Natureza e várias reservas, entre as quais o Parque Nacional do CaparaóSua notável contribuição para o ambientalismo e para as ciências foi expressa em seus mais de 450 trabalhos científicos, incluindo 22 livros. Em suas pesquisas, realizou 259 excursões científicas por vários lugares do mundo, registrando suas observações sobre a natureza. Em suas andanças pelas florestas, Ruschi testemunhava as agressões ao meio ambiente. "Cortam as matas ignorando tudo o que está dentro. Ninguém quer saber que lá tem milhares de animais, centenas de milhares de espécies de insetos, de plantas, que fazem o seu equilíbrio. E o equilíbrio natural é complexo, onde às vezes a ausência de um elemento pode causar uma falha muito grande. O homem é que perturba e desequilibra"Foi uma das poucas vozes que se ergueram no período do Governo Militar para denunciar a derrubada de áreas na Amazônia, assim como os equívocos no projeto de ocupação desta região. Em 1965, lutou para impedir a concretização de um plano do governo do Espírito Santo para vender a madeira de matas nativas e reflorestá-las com eucalipto. Ruschi envolveu-se em várias disputas públicas com empresas e autoridades, destacando-se o conflito travado com o Governador do Estado do Espírito Santo, Élcio Álvares, a respeito da instalação de uma fábrica de palmito na Reserva Biológica de Santa Lúcia. "Em defesa da natureza eu sou capaz de matar ou morrer". Falou a favor dos povos indígenas e antecipou os efeitos deletérios do reflorestamento com espécies exóticas e do uso de agrotóxicosEm 1986, gravemente enfermo devido a sequelas deixadas por doenças que contraiu durante suas pesquisas pelas florestas e, abatido pelo veneno de sapos dendrobatídeos, Ruschi resolveu submeter-se a um ritual indígena na esperança de que esta medicina, baseada em ervas e raízes, o ajudasse a enfrentar a doença. Não resistiu. Atendendo a um desejo seu foi enterrado nas matas da Reserva Biológica de Santa LúciaHomem de visão ecológica preservacionista e cientista prestigiado internacionalmente, Ruschi preocupava-se com a continuidade de sua obra. Pensando nisso, doou o Museu de Biologia Professor Mello Leitão e a Reserva de Santa Lúcia à Fundação Nacional Pró-Memória e, os direitos autorais de sua obra literária, manuscritos e arquivos de fotos ao único filho que seguiu a carreira científica. Augusto Ruschi morreu convencido de que a única esperança de sobrevivência para a humanidade era o homem mudar radicalmente a sua relação com o meio ambiente. 
UM POUCO MAIS | Augusto Ruschi foi presidente da Comissão de Reestruturação do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, da Comissão da Floresta Atlântica e do Conselho de Cultura do Estado do Espírito Santo. Foi membro fundador, honorário, correspondente e efetivo de várias sociedades científicas do Brasil e do mundo. Adquiriu vasto saber sobre as orquídeas, descrevendo cerca de cinquenta novas espécies, além de deixar trabalhos valiosos sobre morcegos, rãs e muitos outros seres. Foi inovador na formulação de modelos de preservação baseados em bancos genéticos e na percepção das reservas ecológicas como reservatórios inestimáveis da biodiversidade e do desenvolvimento sustentável. 
HOMENAGENS | Em 1979 foi objeto de um documentário dirigido por Orlando Bonfim Netto e já foi biografado por Sandra Daniel, Luiz Carlos Biasutti e Rogério Medeiros. Seu nome foi atribuído à Reserva Biológica Augusto Ruschi e ao Parque Florestal Augusto Ruschi, em Santa Teresa; à Reserva Ecológica Augusto Ruschi, em São José dos Campos, São Paulo; ao Parque Municipal Augusto Ruschi, em Vitória; à Estação de Biologia Marinha Ruschi, em Aracruz, bem como  a escolas e ruas; ao Museu Zoobotânico Augusto Ruschi e, identifica várias espécies de plantas e animais, entre elas o rato Abrawayaomys ruschii, a begônia Begonia ruschii e a rã Dendropsophus ruschiiO Museu de Biologia Mello Leitão foi incorporado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Ruschi recebeu a Ordem do Mérito Dom João VI, no grau de Comendador Jerônimo Monteiro, a mais alta distinção do governo do Espírito Santo, além de cinco troféus, dezesseis placas e vinte e três medalhas. Foi homenageado, recebendo a cidadania honorária de Vitória, com a instituição da Medalha Augusto Ruschi, concedida desde 1986, pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a cidadãos brasileiros que contribuíram de maneira relevante nas áreas de ecologia e ciências da natureza e teve sua efígie impressa em uma cédula de 500 cruzados novos, emitida pela Casa da Moeda do Brasil, que circulou entre 15 de abril de 1990 e 15 de setembro de 1994. Sua vida e morte foi tema de uma longa canção de Paulo Tatit, publicada no álbum Quero passear, do Grupo Rumo, sendo adaptada para o teatro por Sérgio Serrano, em 1992, e apresentada pela Companhia Teatro de Papel. O beija-flor Lophornis magnificus, que estudou, tornou-se símbolo da cidade de Santa Teresa, sua terra natal. Através da lei federal nº 8.917, de 13 de julho de 1994, foi-lhe concedido o título de Patrono da Ecologia no Brasil.

AUGUSTO RUSCHI
POR ROBERTO PASSOS DO AMARAL PEREIRA
Nasceu em Santa Teresa
de uma família de imigrantes italianos.
Na infância apaixonou-se pelas orquídeas.
Mais tarde pelos beija-flores.
Cientista e ecologista reconhecido mundialmente.
Fez da fauna e flora 
biologia
sua verdade e vida.



RENATO PACHECO
O pesquisador e escritor capixaba, RENATO JOSÉ COSTA PACHECO (1928-2004) dedicou mais de quarenta anos ao magistério e quase vinte à magistratura estadual. Bacharel em Direito e em História, mestre em Ciências pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, livre-docente da Universidade Federal do Espírito Santo, diretor da Fundação Cultural do Espírito Santo foi professor, poeta, contista e romancista. Fundador da Academia Capixaba dos Novos, Pacheco criou e dirigiu a Edições Renato Pacheco, de 1951 a 1955. Foi menbro da Academia Espírito-Santense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Foi sócio do Centro Cultural de Pesquisas do Espírito Santo e pesquisador associado do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Literatura do Espírito SantoSeu primeiro livro, Poesia Entressonhada foi lançado em 1948. Deixou incalculável produção impressa, tanto livros como artigos publicados em periódicos, incluindo escritos redigidos em parceria com Luiz Guilherme Santos Neves e Reinaldo Santos Neves. Teve uma atuação preponderante no resgate do debate intelectual acerca do folclore capixaba, ao lado dos amigos Guilherme Santos Neves, Maria Stella Novaes, Eurípedes Queiroz do Valle, Cristiano Fraga e Nelson Abel de Almeida. Poucas pessoas em seu tempo foram um consenso como ele foi e poucas foram chamadas por seus alunos e aprendizes carinhosamente de "Mestre" Renato. "Ele foi pessoa dotada de um grande carisma, que soube acolher todos aqueles que lhe procuravam por amizade ou afinidades intelectuais. As novas gerações tem muito que colher dos escritos deixados por essa figura ímpar do pensamento capixaba", afirma Andréia Delmaschio. Do seu contato com a vida e obra intelectual, a autora desenvolveu uma relação de respeito e admiração com seu biografado. "Aprendi a respeitar tanto o menino Renato, doce e ingênuo, de 'Presentes de Natal', quanto o jovem ora misterioso ora lírico dos heterônimos; tanto o idealista fundador da primeira editora capixaba, na década de 1950, quanto o historiador heterodoxo de 'Os Dias Antigos'; tanto o escritor sarcástico e polêmico de 'A Oferta e o Altar' e 'Pedra Menina', quanto o jurista humanitário de 'Problemas do Menor Abandonado'; tanto o romancista crítico e interessado de 'Fuga de Canaã', quanto o pensador desencantado de 'O Macaco Louco' ou o prosador inovador de 'O Centauro Enlouquecido e o Pintor Amante'". 
PARA SABER MAIS | O Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo publicou, em dezembro de 2003, o volume Reino conquistado: estudos em homenagem a Renato Pacheco, coletânea organizada por Fernando Achiamé e Reinaldo Santos Neves, contendo dezoito estudos sobre o Espírito Santo assinados por pesquisadores de diferentes campos de trabalho. Leia Nomes pra viagem: Renato Pacheco, vida e obra, de autoria de Andréia Delmaschio. Leia a entrevista concedida por Renato Pacheco, em outubro de 1997, à Revista Você, acessando o link
http://www.estacaocapixaba.com.br/temas/depoimentos/renato-pacheco-entrevistado-por-oscar-gama-filho-revista-voce/
Leia a crítica de Rubem Braga ao romance de Renato Pacheco, A Oferta e o Altar, acessando o link
http://www.estacaocapixaba.com.br/literatura/fortuna-critica/rubem-braga-a-oferta-e-o-altar/

RENATO PACHECO
POR ROBERTO PASSOS DO AMARAL PEREIRA
Foi jornalista
bacharel em Direito
escritor
poeta, romancista, contista
estudioso da história e do folclore capixabas.
Dedicou-se ao magistério e à magistratura.
Mestre querido de várias gerações.
Intelectual multifacetado,
deixou um grande legado
para ser estudado e analisado.
Homem apaixonado pelo nosso Estado,
com alma de artista.


RENATO PACHECO E SUA VISÃO PESSOAL 
DA CULTURA CAPIXABA
POR GETÚLIO MARCOS PEREIRA NEVES
Há um ano fomos todos, em espírito, acompanhar Renato Pacheco a seu porto final. Não à pequena localidade de Baixo Guandu, sua terra natal e de seu mestre Guilherme Santos Neves, e que emprestou título à antologia de sua obra poética publicada em 1998, mas aos portos do mar da baía de Vitória, a sua cidade que já há muito deixou de ser "só mar e morro", como ele certa vez cantara em Vista Geral de Vitória, poema de 1948. Vitória que desde 1928, ano do nascimento de Renato Pacheco, conheceu um desenvolvimento acelerado, como espelho do desenvolvimento acelerado que conheceu o estado do Espírito Santo nos últimos setenta anos. Observador e analítico, ele, como ninguém observou e analisou a marcha da história nestas paragens. E observando e analisando, produziu obra ímpar, porque nem sequer ombreada, de compreensão e divulgação das coisas do Espírito Santo. E como todas as coisas tem seu porto final, assim como a obra de uma vida é bom que também o tenha, Renato Pacheco pretendeu, resumindo lembranças, experiências e estudos realizados ao longo dos últimos cinquenta anos, legar aos estudiosos das coisas da terra uma espécie de guia comentado do percurso deste estado do Espírito Santo, nessa seara que foi a sua constante área de cogitação e produção, que é a cultura capixaba. Seu último trabalho, que ele, Presidente de Honra, desejou ver publicado pelo Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, é um apanhado do quanto se produziu aqui ao longo de quinhentos anos em termos de cultura. Não se trata de cultura no sentido antropológico do termo, mas num sentido mais amplo, de produção de bens "palpáveis", e a cultura capixaba foi abordada por ele, seguindo a lição de Rossini Tavares de Lima, no ABC do Folclore, de 1952, subdividindo sua matéria de estudo em cultura erudita, de massa e popular. Renato Pacheco introduziu entre as páginas de A Cultura Capixaba uma crítica ao papel do Estado como fomentador de políticas culturais, e particularmente ao papel desempenhado pelo Estado do Espírito Santo na produção cultural da terra. A produção de Renato Pacheco chegou a seu porto final. O seu legado não, porque sua produção passará a ser cada vez mais estudada, dissecada, analisada. E dessa investigação é que nascerão novas vertentes de estudo, novas facetas de interpretação, sem dúvida novas maneiras de ver e de compreender a cultura capixaba. Como também não há dúvida de que essa tarefa será em grande parte facilitada por ter-nos deixado o mestre, mais uma vez, como ao longo dos últimos cinquenta anos, sua visão pessoal a respeito. É o início de nosso percurso, agora sem ele para levar o farol, até a um porto que, longe de ser final, seja seguro, aliás, como ele sempre foi para nós pelo seu exemplo. Na Oração Anarquista, poema que compõe as Lamentações de Antão Reis, um de seus três heterônimos, propugnou: 'Senhor, é preciso passar meio século/sem nada, mas nada mesmo, escrever/deixando virgens toneladas de papel'. Não dando ouvidos ao velho Antão Reis, não o fez o ortônimo Renato Pacheco. Felizmente para todos nós, os admiradores de sua obra. 



MARIEN CALIXTE
MARIEN CALIXTE (1935-2013) iniciou sua trajetória profissional ainda na adolescência, quando se tornou locutor no serviço de alto-falantes de Jardim América, bairro onde residia, em sua  terra natal, o Rio de Janeiro. Filho de uma professora capixaba e de um paisagista francês, Marien herdou o nome do pai. Aos dez anos de idade saiu do bairro do Méier, onde nasceu, para vir residir, com a família, na cidade de Vitória, no Espírito Santo: "Creio ser, sobretudo, uma pessoa apaixonada pela cidade de Vitória, a despeito de não haver aqui nascido". No final da década de 1950 iniciou sua atuação no campo do jornalismo, atuando como repórter, editor e diretor de redação de diversos jornais capixabas, além de ter sido correspondente de importantes veículos nacionais como, Jornal do Brasil, O Cruzeiro e Veja. Em 1958 criou o quadro O Som do Jazz, que comandou durante mais de cinquenta anos, apresentando trilhas sonoras de filmes. O desdobramento desse trabalho redundou nas dez edições do Vitória Jazz Festival, evento realizado entre as décadas de 1980 e 1990, que trouxe expoentes da música mundial ao Estado, como Dave Brubeck, Sarah Vaughan e Astor Piazolla. Marien foi um significativo representante da vanguarda da literatura e da pintura no Estado. Escreveu dezenas de livros, entre ficção (Alguma coisa no céu, de 1965), poesias e biografias (O pescador de sons, sobre o músico capixaba, Maurício de Oliveira). Foi produtor cultural, secretário de turismo de Vitória, membro do Conselho de Cultura, presidente da Fundação Cultural (atual Secretaria Estadual de Cultura), membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, membro da Academia Espírito-Santense de Letras e diretor do Teatro Carlos Gomes. Incentivou a construção da Biblioteca Pública Estadual e foi idealizador da reforma e revitalização do Teatro Carlos Gomes. Criou o inesquecível slogan, "Viver é ver Vitória". 
PARA SABER MAIS 
Acesse o blog Marien Calixte: Jazz & Cia.
http://mariencalixte.blogspot.com.br/.
Conheça o blog Memória Marien Calixte, que resgata a trajetória de sua contribuição para a cultura capixaba
http://memoriamariencalixte.wordpress.com/

MARIEN CALIXTE
POR ROBERTO PASSOS DO AMARAL PEREIRA
Homem refinado
amante das artes
jornalista, locutor. poeta, repórter, editor
e chefe de redação.
Carioca apaixonado pelo Estado.
A poesia arde no peito,
versa lágrimas de tristeza.
"O Som do Jazz" soluça de dor.
"Viver é ver Vitória" 
chora a sua perda.


O FILHO DO JARDINEIRO
POR CAÊ GUIMARÃES
Assim como Charles Chaplin, Marien Calixte se foi no Natal. Saber de sua morte à distância e pelas redes sociais em meio a uma folga natalina me levou a percorrer o sentido contrário da flecha do tempo. Quando menino, sua voz fazia parte da casa paterna, nos dias em que o rádio era sintonizado no Som do Jazz, nos anos 70. Fui vê-lo, ao vivo e em cores, aí pelo final dos anos 80, em uma das edições do Festival de Jazz de Vitória. Tive vontade de cumprimentá-lo, mas a timidez da primeira juventude me impediu. Bobagem. Ele teria sido gentil e atencioso, como sempre. Desde então, até o dia em que o procurei, a pedido do Massao Ohno, meu também saudoso e querido primeiro editor, o vi em diversas ocasiões. Guardava sempre uma respeitosa distância. Em uma dessas ocasiões, acho que duas edições do festival mais adiante, ele me acenou com a cabeça, como quem diz "seja bem-vindo". Mas naquela tarde também distante em meados dos anos 90 foi diferente. Assim como Massao o fez, Marien abriu as portas do seu estúdio para uma farta conversa sobre jornalismo, arte e cultura, em especial poesia e literatura, minhas praias. Em meio a dezena de discos, livros e fotos com músicos e artistas, eu tive uma mostra de como o espírito humano pode ser generoso e elevado. Ele folheou com atenção os originais do meu primeiro livro, ainda no forno. Fez observações precisas e sinceras sobre o que leu. Não se omitiu em dar dicas sobre locais para o lançamento e falou da sua trajetória. Em todos os encontros vida afora, em seu mezanino ou em shows, exposições e lançamentos de livros, havia sempre em seu rosto um sorriso franco, palavras afetuosas e uma certeza que seu olhar irradiava: a arte pode nos salvar de nós mesmos. E a vida é um longo processo de construção. Ou um jardim, que requer cuidado e delicadeza para florir. Assim como seu pai fez. Há anos que são morosos no decorrer. Outros são prenhes de mudanças e reviravoltas. As escrever essas linhas, computo ganhos. Mas também perdas. A morte do meu amigo jornalista Elimar Guimarães, da cantora Bene Broeto, do publicitário Sérgio Guizzardi, da historiadora Suely Soares. O sono no qual será mergulhado momentaneamente o músico Alexandre Lima, que logo vai despertar. Coisas que vão para sempre. Outras que vão para voltar em outra forma e cor. A vida em movimento, surpresa no redemoinho do mundo. E agora, Marien. Haveria laudas e laudas a preencher sobre sua importância como jornalista, radialista, escritor, gestor cultural e produtor. Mas todas elas se tornam - ainda que enormes - pequenas diante do imenso ser humano que ele foi. Obrigado, cavalheiro. Que haja mais jardins a cultivar na sua nova estrada.