Nas palavras do fotógrafo Alécio de Andrade (Rio de Janeiro 1938 – Paris 2003), “o traço comum das fotografias que apresento talvez já devolva a esse lugar tão visitado a presença e a intimidade do olhar daquele ou daqueles que tentando admirar quadros ou esculturas muitas vezes só enxergam pouca coisa, mas de um momento para o outro, podem viver o encontro com uma obra que irá comovê-los mais que qualquer outra coisa”. O lugar a que se refere Alécio de Andrade é o Museu do Louvre, em Paris, por ele visitado durante aproximadamente quatro décadas – entre os anos de 1964 e 2002. Durante esse período, Andrade retratou, por meio de aproximadamente 12.000 imagens, crianças, jovens, famílias e idosos, em seus particulares (e peculiares) momentos de observação diante das obras expostas no museu. Cada flagrante lembra uma cena teatral que assistimos por cima dos ombros do artista, tendo os visitantes como atores, revelando a apropriação dos espaços do museu pelo público e as relações, às vezes insólitas, que se estabelecem entre alguns dos espectadores e as obras de arte. A “simplicidade” da maioria dos retratos de Alécio de Andrade produz no espectador a impressão de uma familiaridade, onde a espontaneidade efêmera e furtiva dos gestos e dos olhares nos mergulha no real.
A humanidade insuflada pelo olhar de Alécio nos comove porque ele consegue eliminar a distância, evocar a fragilidade, provocar o riso. Permite que as imagens adquiram uma vida independente de qualquer estratégia. Carlos Drummond de Andrade registrou em versos sua percepção acerca desse olhar no poema O que Alécio vê.
A voz lhe disse (uma secreta voz):
- Vai, Alécio, ver.
Vê e reflete o visto, e todos captem
por seu olhar o sentimento das formas
que é o sentimento primeiro - e último - da vida.
E Alécio vai e vê
o natural das coisas e das gentes,
o dia, em sua novidade não sabida,
a inaugurar-se todas as manhãs,
o cão, o parque, o traço da passagem
das pessoas na rua, o idílio
jamais extinto sob as ideologias,
a graça umbilical do nu feminino, conversas de café, imagens
de que a vida flui como o Sena ou o São Francisco
para depositar-se numa folha
sobre a pedra do cais
ou para sorrir nas telas clássicas de museu
que se sabem contempladas
pela tímida (ou arrogante) desinformação das visitas,
ou ainda
para dispersar-se e concentrar-se
no jogo eterno das crianças.
Ai, as crianças... Para elas,
há um mirante iluminado no olhar de Alécio
e sua objetiva.
(Mas a melhor objetiva não serão os olhos líricos de Alécio?)
Tudo se resume numa fonte
e nas três menininhas peladas que a contemplam,
soberba, risonha, puríssima foto-escultura de Alécio de Andrade,
hino matinal à criação
e a continuação do mundo em esperança.
A exposição O Louvre e seus visitantes: fotografias de Alécio de Andrade coloca o espectador em uma espécie de “terceira dimensão”. A primeira se refere à arte esculpida ou retratada por meio da pintura dos inúmeros artistas que têm naquele espaço de visitação parte de sua história produtiva exposta para todos os possíveis olhares. A segunda diz respeito à arte retratada pelas lentes de Alécio de Andrade, em branco e preto. E, por último ressalta-se a arte contemplada e refletida pelo próprio espectador a partir das duas dimensões anteriores.
Gratuita | De terça a sexta: 10 às 18h | Sábados, domingos e feriados: 12 às 18h
Museu de Arte do Espírito Santo (MAES)
Avenida Jerônimo Monteiro, 631, Centro - Vitória
Período: de 12 de agosto a 13 de novembro de 2011
ACESSE O LINK | http://mais.uol.com.br/view/218258
SERVIÇO
Exposição O Louvre e seus visitantes: fotografias de Alécio de AndradeGratuita | De terça a sexta: 10 às 18h | Sábados, domingos e feriados: 12 às 18h
Museu de Arte do Espírito Santo (MAES)
Avenida Jerônimo Monteiro, 631, Centro - Vitória
Período: de 12 de agosto a 13 de novembro de 2011
Parabéns pelo belo texto. É sempre muito agradável visitar seu blog.
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