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14 de setembro de 2012

ATLAS DO FOLCLORE CAPIXABA


O texto abaixo foi redigido por Humberto Capai, fotógrafo, idealizador da Usina de Imagem e coordenador da publicação Atlas do Folclore Capixaba, material concebido pela Secretaria Estadual de Cultura (Secult) e SEBRAE, 2000.

APRESENTAÇÃO - UM GUIA PARA O APRENDIZADO
"O som do apito se perde no ar. Chega até certa distância, atinge mais longe com distorções e acaba se fazendo escutar. Assim são também as ideias, tanto as faladas e as escritas, como as gravadas em qualquer mídia. Por si só e pelos meios onde se propagam, são finitas, limitadas e facilmente perecíveis como tudo que o homem produz.

Tristes e melancólicos seriam todos os finais, se as coisas que são produzidas não atingissem outros homens, seus corpos e suas mentes. Ao tocar, e digo literalmente, corações e mentes, nossas produções ganham o sentido da eternidade, numa rede infinita na qual nunca serão como foram criadas, mas que sempre estarão à serviço deste deleite humano: a criação. Criação que se presta para toda diversidade de prazeres da mais requintada técnica à mais abstrata pintura.

Criação que se presta a outra característica humana, o saber. Aqui não me refiro somente a um certo saber, o saber intelectual. Melhor será dizer saberes como conceito que expressa todas as características humanas envolvidas em nossos atos, o que fazemos, os nossos fazeres. O som do apito, que dispara as vozes e todos os instrumentos da banda, faz com que se agitem os corpos que ouvem, desperta paixões, alegrias e uniões. Provoca estudiosos de música, de antropologia e de muitas outras áreas a escrever, sistematizar e divulgar o que viram, escutaram e sentiram.

Um segundo de um simples sopro num apito é capaz de gerar tudo isso e muito mais. Sabemos disso e portanto nos empenhamos nesta edição do Atlas do Folclore Capixaba, passados vinte e sete anos da produção do Atlas Folclórico do Brasil - Espírito Santo, o último produzido até esta data. O sopro e a rima se dispersam nos meios acadêmicos e nas instituições responsáveis pela cultura.

Com a humanidade e a reverência que nos ensinam os mestres e os portadores, trazemos nesta publicação a harmonia dos acordes produzidos em 1982, orquestrados com saberes e fazeres expressos pelos grupos de artesãos que hoje compõem o cenário do folclore capixaba e por autores e obras publicadas nesse período. De forma sistematizada, aqui estão presentes as descrições textuais e visuais dos grupos, das festas, dos artesãos e de seus artesanatos ligados ao folclore. Aqui estão presentes também os resultados das pesquisas de campo, uma visão histórica do folclore capixaba, as conceituações contemporâneas ligadas ao folclore e um conjunto de referências teóricas.

Em algumas dezenas de minutos o grupo se apresenta tocando e dançando. Com humilde e séria pretensão sabe que está lutando pela cultura. Sabe que erros e falhas ocorrerão - como em tudo que o homem produz -, mas o que importa é que o objetivo final seja atingido. Pretende que todos que assistem se envolvam, participem, divulguem e ampliem essa rede social que a cultura sustenta. Para chegar àquela dezena de minutos, além de saberes e fazeres acumulados ao longo de séculos, centenas de horas foram necessárias para compor textos, para realizar ensaios, para confeccionar figurinos e para fabricar instrumentos. 

O que leitores, estudiosos e pesquisadores encontrarão nestas páginas é resultado de um processo semelhante. Mais de 20.000 quilômetros foram rodados para realizar as entrevistas, pesquisas de campo e as fotos em 56 municípios e seus distritos. Os resumos dos resultados das 335 entrevistas feitas poderão ser encontradas grupo por grupo, artesanato por artesanato e festa por festa, assim como suas localizações, endereços, CEP e GPS.

Milhares de páginas e sites lidos e consultados - eles estarão listados em Referências - orientaram a pesquisa de campo e sua metodologia, redundando em capítulos que trazem a trajetória do folclore capixaba de 1982 até nossos dias e desenham mudanças conceituais ocorridas no folclore, em instituições ligadas à cultura e na academia. Esses capítulos têm a humildade e séria pretensão de se tornar referência e, paralelamente, de orientar e provocar. Provocar encantamento, discussões, novos estudos e maior envolvimento com o folclore e, em particular, o folclore e a cultura capixabas.

Mais de 10.000 fotografias foram tiradas para trazer uma descrição do grupo folclórico e seus componentes e do artesanato e das etapas de sua produção, assim como de partes das festas associadas ao folclore. Isto pautado numa humilde e séria pretensão de estruturar um documento visual que represente uma panorâmica da estrutura física e cromática do folclore capixaba. Tentamos chegar a esse resultado através da descrição visual do grupo mais antigo em atividade e do artesanato ligado a esse grupo. Para apresentar a enorme diversidade que se configura no Estado, as aberturas de capítulos trazem, por temas, algumas construções documentadas.

Milhares de anos de dedicação e saberes e fazeres estão acumulados no somatório das vidas dos mestres listados neste Atlas do Folclore Capixaba. Não chega a milhares, mas a centenas de anos, o somatório das vidas da equipe que produziu este Atlas. Se ela não tem a intensidade da devoção nem da dedicação daqueles mestres do folclore, esta equipe tem, e aqui falo em seu nome, uma humilde e séria dedicação ao conhecimento a à cultura. Tem também a convicção de que o saber e o fazer devem ter uma dinâmica ditada pelo desejo de mudar para melhor. Tem também a convicção de que saber e fazer não têm donos, mas sim portadores. Portadores que acreditam que as transformações devem ser guiadas pela vontade de realizar em grupo, de criar uma harmonia respeitosamente constituída por uma diversidade cada vez maior de partes.

Ao aceitar o desafio de produzir este Atlas em oito meses, prazo estabelecido no processo licitatório, com humildade e seriedade tivemos e temos a certeza de que ele pode ser um instrumento para a organização, divulgação, estudo e pesquisa sobre o folclore capixaba. Cremos também que pode ser um marco para a conjugação de saberes e fazeres gerados de distintas e diferenciadas fontes com um objetivo único: favorecer o fortalecimento e a ampliação da cultura de um povo que procura ser mais feliz, solidário e criativo". 

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